O presidente Jair Bolsonaro (PL) na noite deste domingo (2) que aproveitará o segundo turno para mostrar a política do governo federal diante da pandemia, citando dados da economia.
Bolsonaro disse ainda ter vencido o que chamou de “mentiras” dos institutos de pesquisa, ao citar o Datafolha. “Agora é confiança total.”
Após passar para o segundo turno atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro reconheceu que há uma vontade de mudança no Brasil. O mandatário apontou o aumento no custo de vida da população como uma uma explicação para não ter registrado um desempenho melhor no pleito deste ano.
Bolsonaro evitou botar em xeque as urnas eletrônicas, como costuma fazer, e disse que só irá se pronunciar a respeito após as Forças Armadas apresentarem um relatório sobre o sistema de votação.
A declaração do chefe do Executivo neste domingo, no entanto, foi num tom mais moderado, sinalizando ao menos por ora a aceitação do resultado divulgado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
“Entendo que teve muito voto que foi pela condição do povo brasileiro que sentiu o aumento dos produtos, em especial da cesta básica. Entendo que é uma vontade de mudar por parte da população, mas tem certas mudanças que podem vir para pior”, disse, referindo-se a Lula e à esquerda.
Ele admitiu que sua mensagem não chegou a toda a população. “A gente tentou durante a campanha mostrar esse outro lado, mas parece que não atingiu a camada mais importante da sociedade”, disse.
“Vamos agora mostrar para população brasileira, em especial a classe mais afetada, [que] é consequência da política do ‘fique em casa a economia a gente vê depois’, é consequência de uma guerra lá fora, de uma crise hidrológica também. E tenho certeza que vamos poder mostrar para essa parcela da sociedade que a mudança que porventura alguns querem pode ser pior”, acrescentou Bolsonaro, em outro momento de sua fala.
O mandatário também aproveitou para criticar os institutos de pesquisas, que apontavam uma diferença maior entre ele e Lula no primeiro turno.
“Eu acho que se desmoralizou de vez os institutos de pesquisa”, afirmou Bolsonaro, ao ser questionado sobre se houve fraudes nas urnas, após o resultado ter sido divulgado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). “Isso tudo ajuda a levar voto para o outro lado. Isso vai deixar de existir, até porque eu acho que não vão continuar fazendo pesquisa”, disse.
O Datafolha de sábado (1º) registrou o atual presidente com 36% dos votos válidos, contra 50% de Lula. Já Simone Tebet (MDB) marcou 6%, empatada tecnicamente com Ciro Gomes (PDT, 5%). Eles terminaram a corrida com 4,16% e 3,05%, dos votos válidos, respectivamente.
A margem de erro foi de dois pontos percentuais, abrangendo os resultados de Lula, Ciro e Tebet, mas não o de Bolsonaro.
Diante da perspectiva de que pudesse liquidar a fatura da eleição já neste domingo, o PT trabalhou para ganhar no primeiro turno e apostou em campanhas pró-voto útil e anti-abstenção.
Frente às investidas do adversário, membros da campanha de Bolsonaro sempre buscaram afirmar que ele iria para o segundo turno, colocaram em xeque as pesquisas e divulgaram sondagens em que o presidente aparecia como primeiro colocado —o que não ocorreu.
Também se anteciparam e propagaram questionamentos ao resultado da eleição de antemão, caso ela desse vitória a Lula.
“O problema grave da eleição foram as pesquisas. Foi muito grave”, afirma o ministro Fábio Faria (Comunicações), um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro.
Um dos principais aliados do presidente, Faria afirmou que precisa ser feita uma investigação sobre as pesquisas. “Vamos fazer, saber o que tinha por trás delas. Vamos fazer essa investigação, na Câmara ou em algum lugar”, completou.
O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) afirmou neste domingo que o tribunal não deve responder por divergências entre resultados de pesquisas de intenção de voto e das urnas.
“O TSE só registra as pesquisas. Não tem nenhum envolvimento com relação às pesquisas. Se houve (divergência), quem deve explicar isso são os institutos de pesquisa. Não cabe à Justiça Eleitoral”.
Para o segundo turno, Bolsonaro afirmou que mantém “portas abertas” para conversar com os candidatos Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), derrotados no primeiro turno.
O presidente disse que irá procurar o governador reeleito de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), para conquistar seu apoio.
“Um contato já foi feito hoje [domingo]. Conversamos com um interlocutor do Zema hoje. As portas estão abertas para conversar [com outros presidenciáveis]”, disse.
Ele comemorou também a ida de Tarcísio de Freitas (Republicanos) para a segunda etapa da eleição em primeiro lugar no estado de São Paulo.
O presidente também comemorou o resultado da eleição no Nordeste e antecipou parte da estratégia que adotará no segundo turno.
“A diferença no Nordeste, levando-se em conta o resultado de 2018 no primeiro turno, tivemos votação melhor. Caímos Sudeste —Sudeste não, Minas Gerais—, Sul, Rio de Janeiro. Essa votação perdida é que a gente vai buscar recuperar nesses três estados, que são os maiores colégios eleitorais do país”, afirmou.
O mandatário evitou levantar suspeita de fraude nas urnas, afirmou que neste ano foram registrados menos problemas com os equipamentos do que em 2018 e disse que não iria se manifestar sobre possíveis irregularidades.
“Vou aguardar o parecer das Forças Armadas, que ficaram presentes hoje lá na sala cofre. Repito, elas foram convidadas a integrar a comissão de transparência eleitoral. Então, isso aí fica a cargo do ministro da Defesa tratar desse assunto”.
Ele voltou a dizer que o sistema é vulnerável, mas não falou em fraude, em um tom diferente de dias atrás, quando chegou a afirmar que só não teria 60% dos votos se ocorresse algo “anormal” no TSE.
“Sempre tem a possibilidade de algo anormal acontecer num sistema totalmente informatizado”, disse.
Bolsonaro também anunciou que pretende participar de todos os debates no segundo turno.
“A gente vai continuar participando desses eventos para a gente convencer as pessoas qual o melhor lado para eles”, disse
O mandatário disse apostar que seus aliados eleitos em primeiro turno, como Cláudio Castro, irão se empenhar até 30 de outubro, assim como candidatos a senador que venceram o pleito.
Segundo ele, a tendência é que priorizem suas próprias campanhas quando ainda estão na disputa, o que mudará no segundo turno.
O presidente também evitou responder se pretende apresentar ao Congresso uma proposta que aumente o número de ministros do STF caso se reeleja. “Eu não vou falar em proposta agora do futuro”, afirmou.
O presidente também disse que não deve influenciar os rumos que a bancada do PL deve tomar caso perca as eleições.
“Não vou falar isso aí, porque eu pretendo, quando não for mais eleito, cuidar da minha vida. Estou com 67 anos, não queira imaginar você a minha situação de 3 anos e 8 meses como presidente da República, com todos problemas que atravessamos, além de interferências de outro Poder, além de quase toda imprensa só vendo coisa de errado o tempo todo, acusações, grande parte infundadas. Eu quero o bem da população. Quem não queria estar com a minha idade, tenho direito a duas aposentadorias, estar cuidando da tua vida, né?”, disse.
Na madrugada desta segunda-feira (3), disse que seu adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT) só está preparado para corrida de 100 metros.
O mandatário também voltou a criticar pesquisas eleitorais, que apontavam uma margem maior entre os dois líderes de intenção de voto.
“Nossos adversários só se prepararam para uma corrida de 100 metros. Nós estamos prontos para uma maratona. Vamos lutar com confiança e com força cada vez maior, certos de que vamos prevalecer pela pátria, pela família, pela vida, pela liberdade e pela vontade de Deus”, completou.