Valor Econômico – Medo de represália, vergonha, revolta e constrangimento. Esses são os sentimentos compartilhados por quatro funcionárias da Caixa Econômica Federal que foram intimadas pelo Ministério Público Federal (MPF) a depor em investigação, que corre em sigilo, para apurar denúncias de assédio sexual contra o agora ex-presidente do banco, Pedro Guimarães.
As informações sobre o caso foram publicadas pelo site “Metrópoles”. Em conversa com o Valor, na qual pediram para não serem identificadas, as funcionárias disseram que foram chamadas para depor pelo MPF sem saber do assunto e tiveram uma surpresa. Segundo elas, ninguém imaginava que uma funcionária teria coragem de denunciá-lo anonimamente por assédio sexual. No fim, as quatro intimadas passaram a integrar o processo que o Ministério Público Federal encaminha sob sigilo.
Segundo o relato, o assédio de Guimarães era mais explícito nas viagens pelo Brasil. Sempre eram selecionadas algumas funcionárias para acompanhar o presidente. Mas, na visão delas, ele se comportava como um “rei” ou “pop estar” que não poderia ser contrariado não só nestas visitas a pequenas cidades do interior do Brasil, como também no prédio matriz da Caixa, em Brasília.
Nessas viagens pelo país, conforme as mulheres ouvidas pelo Valor, aconteciam os momentos constrangedores que iam de “beliscões” a convites para sauna, piscina e orgias. Durante os jantares, ele sempre falava em festas e fazia insinuações de que nelas ninguém seria de ninguém. Também incomodava o fato de Guimarães tentar mostrar intimidade que não tinha com as funcionárias, dando abraços e beijos, comportamento inadequado num ambiente profissional. Elas contaram que chegaram a ouvir de Guimarães que, se fossem leais a ele, se dariam muito bem.
“Me senti invadida, humilhada. Um sentimento de estar sozinha. Aí, a gente demora para tomar uma atitude”, disse uma das funcionárias da Caixa ao Valor.
Além disso, de acordo com elas, o comportamento do presidente fez com que outros executivos se sentissem à vontade para ter o mesmo comportamento, como se fosse algo comum e natural. “É a institucionalização do assédio na Caixa”, complementou uma delas.
Uma outra funcionária acrescentou: “Me senti diminuída, violada como profissional, humilhada. Você se dedica muito, tem que mostrar três vezes mais que o homem sua capacidade e você é abordada por alguém que defende o tempo todo a meritocracia.”
Uma terceira fonte ouvida pelo Valor disse que foi assediada pelo presidente durante viagem e ao se esquivar foi remanejada de área. Ela relatou ainda que, quando eram chamadas para as viagens, por mais que se esquivassem do assédio, ainda sofriam com comentários mal-intencionados dos colegas. “Muita vergonha”, afirmou uma quarta funcionária.
Ontem, mesmo com as denúncias de assédio sexual, o presidente da Caixa participou de evento do banco para falar do Plano Safra. Segundo fontes ouvidas pelo Valor, Guimarães foi à solenidade acompanhado da esposa, discursou, e agiu como “se nada tivesse acontecendo”. O evento foi fechado à imprensa, mas vídeos de seu discurso circularam nas redes sociais.
“Quero agradecer a presença de todos vocês, da minha esposa, acho que de uma maneira muito clara, são quase 20 anos juntos, dois filhos, uma vida inteira pautada pela ética, tanto é verdade que quando eu assumi o banco, o banco tinha os piores ratings das estatais, dez anos de balanço com ressalvas, uma série de questões que todos vocês sabem. Hoje, a gente é um exemplo, tenho muito orgulho do trabalho de todos vocês e da maneira como eu sempre me pautei”, discursou Guimarães.
Em nota enviada ao site “Metrópoles”, a Caixa disse que não tinha conhecimento das acusações e que adota medidas de eliminação de qualquer tipo de assédio. Já o MPF do Distrito Federal disse que não dá informações sobre procedimentos sigilosos.