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27 novembro 2024

Biden se vingou de Bolsonaro apoiando Lula

O governo Joe Biden executa uma discreta operação diplomática no Brasil. Até agora, foi bem-sucedido na antecipação de riscos e nas iniciativas para ajudar a reduzir tensões e manter a estabilidade política do país.

As ações dos EUA longe dos holofotes da política são pouco conhecidas. Mas, como a história do Brasil continua a ser escrita pelos funcionários americanos, é legítima a expectativa de que algum dia acabem expostas nos arquivos de Washington sobre o jogo de poder, principalmente com a China, na América do Sul.

Há dezessete meses iniciou-se um fluxo incomum de emissários da Casa Branca a Brasília, Rio e São Paulo. Prevê-se para domingo (4) o retorno de Jacob Jeremiah (“Jake”) Sullivan, assessor de Segurança Nacional, e de Juan Gonzalez, diretor para Assuntos do Hemisfério Ocidental do Conselho Nacional de Segurança. As conversas mais relevantes na agenda são com Jair Bolsonaro e Lula. Separadamente.

A ponte aérea começou em julho do ano passado, quando Biden mandou a Brasília William Burns. Completava cinco meses na Presidência, ainda estava atarantado com as sequelas da tentativa de golpe de Donald Trump, que resultou em cinco mortes na invasão do prédio do Congresso.

Oficialmente, Burns viajou ao Brasil para tratar da disputa com a China no fornecimento de tecnologia para internet 5G. Acabara de assumir o comando da CIA com uma folha de serviços na Rússia emoldurada por longo relacionamento com Vladimir Putin, desde a transição do comando da FSB (sucessora da KGB) para o gabinete de Boris Yeltsin (1991-1999), primeiro presidente após a dissolução da União Soviética.

Burns esteve com Jair Bolsonaro e jantou com os ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) na residência do embaixador dos EUA. Foi incisivo sobre a “preocupação” da Casa Branca com a disseminação da desconfiança no processo eleitoral brasileiro promovida por Bolsonaro, candidato à reeleição, tropicalizando táticas desenvolvidas por Trump. Na época, Lula começava a aparecer na dianteira das pesquisas.

“Com discrição, os EUA agiram para reduzir a tensão política no Brasil”

No mês seguinte, Bolsonaro recebeu Jake Sullivan e Juan Gonzalez no Palácio do Planalto. Capitaneavam uma comitiva de especialistas do Conselho de Segurança Nacional e do Departamento de Estado, em missão para contrapor ofertas à difusão do 5G da China no Brasil. O pacote estava adornado por facilidades no acesso à tecnologia bélica. O Brasil tornara-se vulnerável a alguns sistemas de armas convencionais vendidos pelos russos à Venezuela. Putin deu a Caracas o potencial de alcançar Brasília, que continua sem capacidade de resposta armada compatível.

Sullivan e Gonzalez esboçaram alternativas num roteiro para gradativa integração do Brasil à aliança do Atlântico Norte (Otan), sob o status de “parceiro global” — quimera de diplomatas e militares brasileiros.

A conversa começou a desandar quando Bolsonaro falou sobre suspeitas — jamais comprovadas — de fragilidades no sistema de votação eletrônica do Brasil, emulando dúvidas sobre a legitimidade da derrota de Trump. Os assessores de Biden retrucaram, diplomaticamente, lembrando a estabilidade democrática como requisito prévio e fundamental para acesso do Brasil ao supermercado bélico da Otan. Repisaram o alerta em reuniões com os chefes das Forças Armadas.

O Brasil mudou desde a última passagem conhecida de Sullivan e Gonzalez por Brasília. O governo acabou em fiasco eleitoral e, como Trump, Bolsonaro agora está preocupado em assegurar imunidade familiar no retorno à planície política.

Avisos não faltaram, inclusive os de Biden na parte pública da reunião com Bolsonaro em Los Angeles, em meados do ano. A Casa Branca coordenou com governos da França, do Reino Unido e da Alemanha o acompanhamento das eleições brasileiras. Se Bolsonaro demorou 28 dias para cumprimentar Biden pela vitória contra Trump, Biden levou apenas quarenta minutos para reconhecer Lula como presidente eleito.

O Brasil está longe de ser prioridade na agenda de política externa dos EUA, mas há razões para o intenso esforço diplomático dos últimos dezessete meses. A principal é pragmática: instabilidade política no maior país da América do Sul é ruim para os negócios na guerra comercial e tecnológica com a China. Daí o interesse em preservar o regime — ao contrário do que ocorreu 1964. O desafio de Washington, agora, é vencer resistências históricas do PT à cooperação com o “império”.

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