O bilionário Elon Musk repetiu o que havia feito na campanha presidencial dos Estados Unidos, quando convidou Donald Trump para uma conversa amigável, intitulada como entrevista, transmitida pela rede social de sua propriedade, o X, ex-Twitter. Agora, ele chamou Alice Weidel, colíder e candidata a chanceler da legenda de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD).
Futuro integrante do governo Trump, o bilionário tem contribuído para a onda de desinformação em meio aos incêndios que assolam Los Angeles, nos Estados Unidos, e começou sua live também com uma fake news, afirmando que “Weidel é a principal candidata a governar a Alemanha”.
O bilionário Elon Musk repetiu o que havia feito na campanha presidencial dos Estados Unidos, quando convidou Donald Trump para uma conversa amigável, intitulada como entrevista, transmitida pela rede social de sua propriedade, o X, ex-Twitter. Agora, ele chamou Alice Weidel, colíder e candidata a chanceler da legenda de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD).
Futuro integrante do governo Trump, o bilionário tem contribuído para a onda de desinformação em meio aos incêndios que assolam Los Angeles, nos Estados Unidos, e começou sua live também com uma fake news, afirmando que “Weidel é a principal candidata a governar a Alemanha”.
“Somos um partido conservador libertário. Pelo menos é assim que nos vemos”, disse Weidel. Ela também se queixou de que a AfD é “designada como extremista de direita”, agradecendo a Musk por lhe oferecer “uma conversa normal” na qual ela não foi “apresentada de uma forma diferente e extremamente negativa”.
Normalização
A estratégia de Musk, que já se colocou à disposição de ajudar a extrema direita na Grã-Bretanha e em outras partes do mundo, é justamente esta: “normalizar” a imagem do partido.
O esforço vem desde dezembro do ano passado, quando o bilionário publicou um artigo no Welt am Sonntag. “A Alternativa para a Alemanha (AfD) é a última centelha de esperança para este país”, escreveu, dizendo ainda que a legenda “pode liderar o país para um futuro onde a prosperidade econômica, a integridade cultural e a inovação tecnológica não são apenas desejos, mas realidade”.
“A representação da AfD como extremista de direita é claramente falsa, considerando que Alice Weidel, a líder do partido, tem um parceiro do mesmo sexo do Sri Lanka! Isso soa como Hitler para você? Por favor!”, apontou.
Apesar Weidel ser assumidamente lésbica e ter dois filhos com uma mulher nascida no Sri Lanka, o fato é que seu partido se tornou a voz mais alta no parlamento alemão, Bundestag, contra os direitos LGBTQIA+. A legenda, por exemplo, se opôs à legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo e à adoção conjunta para casais gays e lésbicas em 2017. Dois anos depois, entrou com uma moção para revogar o casamento gay.
Já em 2023, como lembra o Context, a AfD tentou contestar uma lei de autoidentificação que facilita a mudança de gênero legal para pessoas trans, sendo malsucedida. O site destaca ainda que o partido quer interromper todo o financiamento governamental para “projetos de desenvolvimento baseados em ideologia woke“. A Alemanha tem há quatro anos uma política para defender os direitos LGBTQIA+ no exterior por meio de política externa e ajuda ao desenvolvimento.
Hitler “comunista”
O auge da tentativa de dissociação da imagem da legenda com o extremismo de direita foi a repetição de um revisionismo histórico grotesco, que já encontrou eco nas redes sociais brasileiras, a de que o fundador do nazismo, Adolf Hitler, era “comunista”.
“O maior sucesso (de outros partidos) depois daquela era terrível em nossa história foi rotular Adolf Hitler como direitista e conservador. Ele era exatamente o oposto. Ele não era conservador, ele não era libertário. Ele era um cara socialista, comunista”, disse a líder da AfD.
Musk e Weidel sabem o poder da mentira amplificado pelas redes sociais. Em 2018, a mesma falsificação sobre a figura de Hitler circulou no Brasil, obrigando a embaixada da Alemanha a se manifestar com um vídeo. O então ministro das Relações Exteriores do país, Heiko Maas, em mensagem exibida na peça audiovisual, era didático: “Devemos nos opor aos extremistas de direita, não devemos ignorar, temos que mostrar nossa cara contra neonazistas e antissemitas”.
Richard Evans, em sua obra de três volumes sobre a Alemanha nazista, também era categórico: “Hitler não só não era um socialista, nem um comunista, mas ele realmente odiava essas ideologias e fez o máximo para erradicá-las. No início, isso envolvia a organização de bandos de criminosos para atacar os socialistas nas ruas, mas depois passou a ser invadir a Rússia, em parte para escravizar a população e dar “moradia” aos alemães e, em parte, para acabar com o comunismo e o ‘bolchevismo'”.
O bilionário vai tentar reescrever a história para viabilizar a chegada ao poder de aliados, em geral de extrema direita, normalizando suas ações e propostas. Resta acompanhar a reação das autoridades da Europa, que já definiram (pelo menos em discurso) uma postura mais rígida em relação à disseminação de desinformação e da interferência do dinheiro em processos eleitorais.