Nas eleições municipais de 2024, um curioso fenômeno chama atenção: a frase “Durante todo o mandato a realização dos objetivos almejados estará atrelada a valores como trabalho, transparência, responsabilidade, realismo, consistência, criatividade e, acima de tudo, planejamento” aparece de forma idêntica nas propostas de governo de 274 dos 15 mil candidatos a prefeito em todo o Brasil. O levantamento com uso de inteligência artificial que revela a pataquada é do G1.
O trecho é usado por representantes de 22 partidos – dos 29 que disputam as eleições – em 266 cidades de 25 estados, com algumas cidades tendo mais de um candidato utilizando o mesmo texto. Embora a repetição sugira a falta de originalidade nas propostas, especialistas e advogados eleitorais afirmam que a prática não configura crime eleitoral, uma vez que não há exigências formais sobre a exclusividade ou originalidade do conteúdo nas propostas de governo.
A legislação brasileira exige que candidatos a prefeito, governador e presidente registrem suas propostas junto à Justiça Eleitoral, mas não estabelece regras rígidas quanto ao conteúdo. Segundo o advogado eleitoral Alberto Rollo, o plano de governo, muitas vezes, é genérico e não reflete necessariamente a atuação futura do candidato, mas sim o cumprimento formal de um requisito legal.
Emmanuel Publio Dias, especialista em marketing político, observa que a elaboração superficial desses documentos é uma consequência da pouca importância dada pelos candidatos e pelo eleitorado. “O plano de governo deveria ser o principal argumento para o voto, mas não é tratado assim”, ressalta o professor.