O vídeo do deputado Nikolas Ferreira, recheado de fake news e meias-verdades sobre o Pix, alcançou 315 milhões de visualizações em apenas três dias. Isso apenas no Instagram do neo-trumpista Mark Zuckerberg, que assume seu posto de general golpista da extrema-direita.
Esses números, no entanto, são absurdos, e diversos fatores demonstram que eles correspondem à realidade.
Mesmo assumindo um cenário surreal em que todos os 213 milhões de brasileiros — incluindo recém-nascidos e gente sem internet — assistiram ao vídeo, cada pessoa teria que assisti-lo uma vez e meia.
Outro ponto é que não há interesse no vídeo fora do Brasil. Países de língua portuguesa como Portugal ou Angola têm pouco ou nenhum motivo para consumir um conteúdo tão específico da realidade brasileira.
Considerando a hipótese de que apoiadores do deputado deixaram o vídeo em looping para inflar artificialmente os números, a discrepância ainda seria alarmante. Um exemplo mais realista está no TikTok, onde o mesmo vídeo alcançou cerca de 12 milhões de visualizações, um número alto, mas muito mais próximo da realidade.
Conteúdos globais com alto “replay value” não alcançam tamanha audiência em tão pouco tempo. “Replay value” é uma expressão usada para descrever o quanto um conteúdo — como uma música, um jogo, um filme ou um vídeo — incentiva o público a consumi-lo novamente.
Considere o exemplo de Taylor Swift, uma artista mundialmente famosa com letras cheias de detalhes emocionais e narrativos que os fãs gostam de analisar e interpretar. Suas regravações de álbuns e versões alternativas (como faixas bônus e acústicas) aumentam ainda mais o replay value. Taylor não tem esse número de Nikolas.
O vídeo supera fenômenos de engajamento no cinema, como “Vingadores: Ultimato” (2019), “Star Wars: O Despertar da Força” (2015), e “Pantera Negra” (2018). Em 2021, Kylie Jenner compartilhou um vídeo anunciando sua segunda gravidez, que acumulou mais de 163 milhões de visualizações.
Portanto, a explicação é que os números foram inflados de forma deliberada, seja por bots, algoritmos ou práticas artificiais de engajamento. Isso é só o começo da cavalgada das bigtechs.
DCM