Folha – Com a proximidade do primeiro turno da eleição presidencial, voltam a ganhar força posts tentando descredibilizar o Datafolha, instituto de pesquisa da Folha. Apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição que aparece em segundo lugar nos levantamentos recentes do instituto, publicam conteúdos afirmando, erroneamente, que pesquisas do Datafolha em 2018 indicavam que Fernando Haddad (PT) seria presidente.
“Você está de sacanagem, Datafolha errou em 2018 em todos os cenários, vá estudar, pô!”, escreveu um usuário do Twitter, seguindo linha de Bolsonaro, que faz frequentes ataques ao instituto. De todas as pesquisas feitas durante a campanha de 2018, em apenas uma Bolsonaro perdia para Haddad, na simulação de segundo turno feita em 28 de setembro de 2018. Nos outros levantamentos, ou havia empate técnico ou vitória do atual presidente —ou seja, os posts que questionam a credibilidade do Datafolha não consideram a série de pesquisas, apenas uma delas.
Um exemplo de como as pesquisas se aproximaram da realidade: na última pesquisa antes do segundo turno em 2018, a Folha publicou reportagem com dados do Datafolha com o título “Bolsonaro chega à véspera da eleição com 55% dos votos válidos”; então no PSL, ele venceu Haddad com 55% dos votos.
Para o cientista político Augusto Neftali de Oliveira, professor da Escola de Humanidades da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), há dois comportamentos que uma campanha pode adotar quando seu candidato não está em primeiro lugar nas pesquisas. “O normal, evitar que a militância desanime, explicar que ainda há jogo para ser jogado, e o anormal, escolhido por Bolsonaro, que é deslegitimar as pesquisas”, diz ele.
Esse comportamento, segundo o especialista, torna o cenário preocupante. “Há uma forte conexão do discurso dele sobre a desconfiança em relação às pesquisas com o da desconfiança no processo eleitoral, o que vai se relacionar com a desconfiança no resultado da eleição, se não for o que ele quer.”
Ele lembra que a desinformação sobre pesquisas não é exclusividade das últimas eleições, mas que as redes sociais facilitaram sua disseminação. “Elas permitem a divulgação de notícias falsas mais rapidamente, agravando o problema.”
E, de acordo com Leonardo Rodrigues de Morais, cientista político, pior do que não se informar é consumir apenas desinformação, como faz grande parte dos eleitores de Bolsonaro, principais críticos do Datafolha. “Bolsonaro sabe o que faz. Tanto ele acredita em pesquisas eleitorais que foi o que mais gastou com elas, mas diz o contrário para criar confusão, e seus apoiadores acreditam”, diz Morais.